quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ao óbito eterno!


Publicado originalmente em 31 de Julho de 2008


Aqui escreve o poeta enganado.
Aqui escreve o homem que sentiu tanto, mas não teve percepção! Não teve astúcia...
Não foi capaz de captar mentiras e de perceber palavras falsas.
Não soube amar o verdadeiro. Não soube não se guardar. Não conseguiu se desvencilhar dos braços daquele que tanto amou. Não feriu e recebeu uma espada no peito. Não foi mundano. Não foi desumano. Não conseguiu ser racional enquanto havia tempo.

O grande mal do ser humano é que ele tenta ser poeta. Tenta sentir o quase impossível dos corações. Tenta criar amores que ultrapassam os livros e contos, que vai além do cinema.
Não és um poeta! Não sentes.
Este é privilégio de poucos...
Tu nada chora e nada ri. Apenas vive a mercê do corpo.
O corpo te leva, o coração é um artifício para seres quem não és...

Contigo fui poeta. Contigo fui humano.
Contigo sonhei. Contigo fui homem.
Contigo contei. Contigo cantei. Contigo meu coração pulsou como jamais havia pulsado antes.
Imaginei que histórias de príncipes e princesas saiam do papel, e que nada era comparado com as emoções da vida real. VIDA REAL!
E tudo era lindo e eu sonhava em campos inabitados da alma. E dormia... sonhava... repousava nos sonhos que construimos juntos. E esses sonhos me mantiveram vivo. E a mentira era doce.
Se sentir vivo não é sempre. E você só sabe quando está amando quando fica feliz por pássaros te acordarem de manhã, porque é bom compartilhar com eles o mesmo amor que eles sentem. Apaixonados reconhecem outros apaixonados...


O mal de tudo isso foi teres me tirado a alegria em ser poeta.
A alegria em sonhar, viver, chorar sem medo.
Hoje não choro, não penso. Tenho medo de sonhar de novo.
Tenho receio em jamais poder me embebedar de amor novamente.
O medo da mentira. Oh cruel medo da mentira.
Tudo me perece ser igual. Palavras afáveis. Amores trocados mutuamente.
E na estação, o seu trem parte rumo ao longínquo. Me deixa, me abandona.
Leva nas bagagens minhas raízes, o amor-próprio, a auto-estima, a esperança do grande amor, a segurança de minhas poesias...
Substitui sem saber tudo! (Tu nada sabes, não-poetas nada sabem)
Abala as estruturas.
Rouba do mundo um apaixonado. Deixa um inseguro, um desumano, uma pedra!
Arranca cada sorriso e deixa meros movimentos faciais.

Devolva-me a paz, devolva-me a poesia!
Faça-me o coveiro que te enterra nas veias da terra. De você nada quero.
Só me resta o ódio. Só me resta a desilusão.
Parta para sua terra de homens inexpressivos, e me deixe reorganizar as leis do meu vale dos apaixonados e corações partidos.

E um dia reencontrarei tudo o que me roubastes. E um dia este poeta irá se orgulhar da terra em que vive... a eterna terra daqueles que amam. A mesma terra que te enterra e te sufoca. Te vela vivo e te sepulta agonizando.
Ao amor, minhas esperanças; a você, o óbito eterno!

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