quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Silêncio!


Publicado originalmente em 24 de Julho de 2008


Hoje é dia 10 de julho de 2008. Dados referentes ao clima do dia serão poupados para evitar aqui um clichê.
Estou na biblioteca municipal da cidade de Presidente Prudente, no andar de cima. Na segunda mesa (contando do pilar), a esquerda. Do meu lado uma jovem trajando rosa, tênis despojados e óculos delicados folhea furtivamente folhas de um enorme livro. Sei que busca em tantas palavras algo, algo que não sei o que é, mas algo concreto.
Na porta lê-se em letras garrafais: "SILÊNCIO!", e todos obedecem. Máquinas de escrever não cumprem regras, e fazem todo o barulho possível. E me faz lembrar que a cada segundo um grande mestre cria. Joga no mundo prostitutas, padres, demônios de belos cabelos loiros e anjos segurando tridentes afiados. É nesta biblioteca que se pede silêncio que ouço tantos e tantos gritos.
Mulheres desesperadas a procura de seus maridos que descem de grandes navios. Crianças que choram a peste bubônica. Homens discutindo a política e tentando-a fazer. Ventos que sopram e movem os moínhos de vento com força.
Um velho acaba de morrer na estante 34.
Um país entra em guerra na estante 15.
Números que se casam com números e nascem equações enquanto verbos são conjugados, dando beleza e coerência a nossa bela língua.
A história do mundo é contada aqui, enquanto outros homens a fazem la fora.
Não se pode silenciar tais seres. Livros nunca se calam.
Poderia olhá-los como grandes tijolos sem importância, mas eu sei que eles me levam ao mundo do imaginário surreal. E é onde eu posso chegar mais perto e tocar a calda da grande e impiedosa Moby Dick. Da doce Pollyanna. De quincas Borba e suas batatas. De uma certa volta ao mundo em 80 dias. De Oliver Twist que tentou roubar meus pertences ontem, pobre criatura! Al Capone que me fez mal muito maior...
E toda a beleza só é beleza porque poetas a admiram. E toda a riqueza é levada por séculos com estes tijolos amarelados e flexíveis. E que me afoguem em suas páginas. Me alegrem cada dia. Me levem ao mundo do surreal.
Me dêem as batatas, pois serei um vencedor. Me leve a uma viagem pelo mundo. Me roube tudo o que tenho...

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