quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O pássaro e a minhoca


(Publicado originalmente em 29 de Janeiro de 2008)


Observação: O texto abaixo se refere à banda "The Used", que em minha opinião é a melhor banda jamais vista!
O texto foi escrito por mim no dia 6 de dezembro de 2007, dias antes do tão esperado show.
Aconselho aos leitores e amigos de "Telescópio Social" a leitura deste que se segue com a música "The bird and the worm" do álbum "Lies from the liars", já que o mesmo foi criado sob doses desta música e inspirado nela. Boa viagem! Boa leitura!


Acordei com medo, sobressaltado! Uma forte explosão devastou tudo. Tudo o que eu achava que existia, tudo que eu achava que vivia...
As ruas estavam negras, havia sangue por toda parte. Pessoas gritando, gemendo, desfalecendo aos poucos...
Uma grande fumaça negra sobe no céu, antes azul agora completamente cinza.
O barulho é alto, ensurdecedor, mortal.
A tristeza faz parte de toda a arquitetura da cidade...
Todas as lembranças, todas as alegrias, todas as memórias da infância vividas neste lugar... Esqueci, em meio a tanta confusão e caos.
Caminhei. Caminhei por minutos, talvez horas (por que não dias??). Já não tinha mais a noção do tempo, e tudo o que eu procurava era algum lugar onde pudesse fugir de tudo isso.
Minha alma tremia, eu sentia tudo como um misto de situações jamais vividas antes em um
mundo tão pequeno, frívolo como aquele em que eu sempre me escondi. Uma pedra! Nada mais do que uma pedra sem emoções, sem sentimentos. Então eu sabia, fui obrigado a me sentir vivo, mesmo que para isso eu tivesse que estar do lado da morte!
Quando eu já não sabia onde estava, completamente desnorteado e em meio a toda a poluição visual, auditiva. junto com grandes bolas de fumaça se misturando as nuvens e tudo mais o que compunha aquelas cenas demoníacas, avisto um pássaro, um lindo pássaro. Tão grande quanto uma águia porém com feições do mais puro animal que vive na terra, seja ele qual for... tinha uma pelagem extremamente branca e o mais curioso: desenhado de preto em cada uma das
asas, uma enorme e reluzente letra U.
Um grande, imenso alívio percorreu todo o meu corpo, e tudo o que eu queria era me agarrar neste animal, como uma criança chorosa em busca de conforto no colo do pai.
Imediatamente me rastejei até um lugar onde podia vê-lo melhor, sim, ele já sabia. Já sabia de todo o segredo. Ele já sabia a razão e a causa de toda aquela desgraça, todo aquele caos jamais premeditado.
Parei em uma grande e imensa pedra. Sujo, triste, humilhado pela situação.
Ele voa, voa como um urubú em busca de carne fresca, lá longe, onde nem os gigantes alcançariam.
Ele me avista, me olha. E vai descendo lindamente com inúmeras acrobacias no ar, contrastando com tudo de feio que havia no cenário.
Desce (aterriza?). O ar que vem de suas asas me refez em grande parte. Já não sentia mais medo.
Ele me olha no fundo dos olhos e tudo o que diz é: você está pronto para desvendar todos os segredos e experimentar as mais belas sensações exclusivas de vocês, humanos?
No mesmo momento meu corpo se arrepiou com a grandiosidade única do enorme pássaro e seu convite.
Eu não consegui dizer que sim, mas não foi preciso. Com suas enormes asas, o pássaro me pegou como uma minhoca... humilhantemente idêntico á uma minhoca. Voamos e mais uma vez não existia tempo, distância e não sei por quanto tempo voamos.
Ao longe avistei uma grande multidão, milhares de pessoas reunidas em um só lugar.
Com grandes e vistosas caixas de som, pessoas felizes, fumaças artificiais que ao contrário da outra, causava uma grande sensação de bem estar.
De lá todos avistam o grande e imenso pássaro... o show pára! TUDO pára!!
As pessoas apontam e comentam... e ao mesmo tempo sorriem. Com sorrisos dos mais variados (o grande antídoto de todas as tristezas!!). O remédio começou a fazer efeito...
Ele vai pousando lentamente, como um grande mestre do vôo que o era!
É ai que um rapaz, de cabelos negros, com aproximadamente 25 anos, com ar cansado do show tão exaustivo, completamente suado e visivelmente excitado e alegre, lhe sorri e lhe chama ao palco. Todos observam a cena com extrema curiosidade. ficou óbvio que todos os presentes naquele lugar já haviam passado por esta experiencia e que agora se contentavam em ver outra pessoa em seus lugares...
O jovem simpático se apresentou como Bert McCracken, e logo atrás dele vieram mais três, que se apresentaram como Dan Whitesides, Quinn Allman e Jeph Howard.
Meu coração se encheu de alguma sensação jamais vivida anteriormente. Meu espírito se encheu de alegria. E o que jamais queria era voltar para o lugar onde eu estava anteriormente, com ou sem aquele caos!
Bert cantava, gritava, e eu sentia tudo o que uma pessoa poderia sentir em um momento de puro "orgasmo auditivo". Aqueles momentos únicos em nossa vida que você sabe que se pudesse parar o tempo você não exitaria.
Os berros de Bert seguiam o ritmo da bateria acelerada de Dan. Ao fundo quinn mostrava toda
a sua graça e talento com sua guitarra, enquanto Jeph Howard dava amostras de perfeição com um belo baixo em seus braços...
De repente tudo acaba e eu vejo tudo diferente. Um quarto bagunçado, com casacos, chapéis, meias, E tudo o que se pode imaginar no chão, jogado.
Meu corpo transpirava demais em uma cama que me parecia muito pequena e desconfortável comparado ao paraíso em que estava segundos atrás.
Rapidamente me levantei, assustado. Bati fortemente num relógio que apitava frenéticamente. O inconveniente mostrador de horas que me havia trazido à realidade. No mesmo instante corri até um calendário para me situar.
Assustado, vi que dia era. No mesmo instante uma forte alegria tomou conta de meu corpo. Tudo isso havia sido uma prévia de toda a alegria que eu iria sentir hoje... talvez muito maior que a falsa e ilusória alegria do sonho!
Eu estava no Brasil e era dia 15 DE DEZEMBRO DE 2007!

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